Começar a participar do módulo Bob Wilson, o primeiro módulo de nossa disciplina, foi o ponto inicial para me deparar com o universo do Teatro de modo verdadeiramente real. Apesar de já conhecer um pouco do universo teatral quando trabalhava com cenografia há uns 3 ou 4 anos atrás, eu raramente me envolvia com o processo estético embutido na própria dramaturgia da atuação e encenação.
Participar dessas aulas foi o inicio para perceber o quão é complexa a tarefa de ser ator e atuar. Neste texto conto um pouco de minha relação com esse primeiro módulo: minhas impressões gerais pessoais, as constatações dos processos estéticos de Bob Wilson e sua relações com as Artes Plásticas (disciplina de minha formação)e por fim, apresento algumas imagens de projetos e trabalhos apresentados para a aula.
Inicialmente, nas primeiras aulas, pediu-se que fosse realizado um roteiro de tema livre para uma encenação. Escolhi realizar o roteiro de um casamento, já que meu projeto de mestrado trata de entender os aspectos estéticos de teatralidade presente em nossa realidade cotidiana.
Fiz alguns desenhos e achei interessante participar das práticas que implicavam esses projetos iniciais. Nas práticas juntávamos nosso roteiro pessoal a um processo estético de Bob Wilson e a partir deste duplo pensamento, formávamos um terceiro movimento, que em grupo era apresentado.
Achei bastante interessante o processo de aproximação a Bob Wilson, fizemos roteiros, desenhos, projetos, repetições de encenação em prática, analisamos recortes, recursos, falamos muito sobre quais eram os processos estéticos vendo os filmes das peças de Bob e principalmente tivemos a grande oportunidade de assistir ao vivo a peça de Bob Wilson, encenada pelo próprio artista criador, que na ocasião da época do módulo, se apresentava no SESC, com a peça A ÚLTIMA GRAVAÇÃO DE KRAPP (Krapp´s Last Tape).
Ver a peça após todo esse conhecimento foi fundamental para entender os limites racionais e intencionais de Bob, e como todos os recortes eram de fato processos fortemente demarcados e reconhecíveis ao longo de sua carreira.
Uma das coisa que mais me comovi nas aulas sobre Bob Wilson, foi assistir o documentário sobre a trajetória do artista. Me sensibiliza, muitas vezes, olhar a história de um artista, entender quais foram seus percursos, seus maiores problemas e constatar como que tudo que é verdadeiramente desejável por alguém, de fato acontece quando há persistência unida a qualidade e muita crença.
O documentário, me sensibilizou e me fez notar como os processo estéticos de Bob se desenvolveram pouco a pouco até hoje. Ver como o interesse de um artista gera possibilidades de desencadeamento para sua efetiva produção, é realmente muito intrigante para jovens artista como eu.
Além desses pontos que apresentei, que até agora foram apenas juízos de gosto pessoal, gostaria também de apontar para um elemento de aproximação do Teatro Performático com as Artes Plásticas. Ao estudar Bob Wilson, pude perceber o quanto esses processos estéticos embutidos neste tipo de Teatro são reconhecíveis no universo de criação da Arte Contemporânea.
O mais interessante foi notar, que para além dessa constatação, o mais curioso era o fato de que nas Artes Plásticas esses processos estéticos são comuns, batidos e normais. Como o próprio professor Bulhões nos suscitou em aula como dúvida; foi refletir sobre a dificuldade pelos quais o espectador teatral ainda não está apto a reconhecer com conforto e fácil identificação processos estéticos performáticos do Teatro Contemporâneo.
Digo isso e gostaria de reforçar essa constatação, pois processos estéticos como: prolongamento do tempo, recorte de luz, silêncio, imagem artificial como representação estética do que "dever ser", dureza do controle racional, som prolongado e estranho, desconexões de ações, etc.; são processo estéticos usados na Arte Contemporânea.
Tais processos, inseridos neste contexto, não só são bem assimilados, como passam a ser quase uma "regra", sendo que o contrário, por exemplos, se imaginarmos os recursos estéticos do Teatro Dramático, (exemplo a narrativa) se fossem utilizados aleatoriamente nas Artes Plásticas, seriam automaticamente abominados e recusáveis (exceto claro, se fossem utilizados a favor de um conceito específico para o valor de definição de um trabalho plástico determinado.)
Tal dicotomia me fez pensar os motivos pelos quais isso acontece, e de certo modo, a única resposta que tenho até agora e imaginar que como o Teatro acontece em tempo real e "exige" a presença 100% do espectador e as Artes Plásticas muitas vezes não. (isso porque, por exemplo, um trabalho de vídeo com duração de 10m de silencio inicial, pode ser largado pelo espectador nos seus primeiros segundos,neste caso, o espectador simplesmente para de ver e vai olhar o próximo trabalho dentro da exposição.)
Já o Teatro não, ele parece "atar" o corpo da pessoa na poltrona, que com a luz escura se sente aflito ao esperar os 10m de silencio e imobilidade e é "coagido" a permanecer e esperar ali sozinho. Poucos espectadores em uma situação como essa levantariam e iriam embora, ou não?
Pensar sobre isso me faz lembrar os vídeos do artista contemporâneo Matthew Barney, que usa muitos dos mesmos procedimentos estéticos em seus trabalhos.
Matthew Barney
Robert Wilson
Para concluir gostaria de citar dois aspectos que me foram marcantes nessas aulas sobre Bob Wilson. Primeiro ler o texto da Feral, em que encontrei nas referencias bibliografias do texto, outras referencias cruciais para entender as relações entre teatralidade e realidade, pontos que identifico para a construção de minha dissertação de mestrado.
Em um segundo aspecto, notei um grande controle que os atores que fazem parte de nosso curso (os alunos de nossa disciplina) tem um grande domínio de seu próprio corpo, algo que eu como Artista Plástica não consigo me adaptar e nem desenvolver, mas admiro muito.
A baixo, apresento uma foto do trabalho de meu grupo para a construção prática baseado nos processos estéticos do módulo Bob Wilson.
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