Protocolo
Por Célia Gouvêa
A forma não se submete nem é inferior ao conteúdo. É um padrão
existente em todas as coisas. Formal passou a opor-se a psicológico. No
programa da última versão da ópera Macbeth apresentada em São Paulo em Novembro de
2012 no Teatro Municipal, o diretor Robert Wilson principia seu artigo com as
palavras “Meu Teatro é um Teatro Formal”. “O teatro de Bali, o Katakali
indiano, a ópera de Pequim, ou o teatro Nô do Japão são todos formais, ao passo
que na cultura ocidental, como disse André Malraux, o teatro foi circunscrito
pela literatura” (2012, p. 17).
Hans Thies Lehmann, ao referir-se à
dramaturgia visual de Robert Wilson, cita palavras do próprio criador:
“O formalismo significa : observar as coisas à distância ; como um pássaro que,
do galho de sua árvore, contempla a extensão do universo – diante dele se
estende o infinito no qual ele pode entretanto reconhecer a estrutura temporal
e espacial”. (Apud Keller, Holm.Robert
Wilson. Regie im Theatre, Francfort/Main. 1997, p. 105 et s ) – tradução
nossa.
Outro aspecto relevante na precisa
concepção cênica imagética de Wilson foi apontado por Luiz Roberto Galizia, em
“Os Processos Criativos de Robert Wilson” : uma proximidade de relacionamento
entre o pensamento consciente e o inconsciente:
“Abrigou a surpresa, o humor, a ambigüidade e as imprevisíveis associações do
sonho”.
( GALIZIA, 1986,
p. XXXVI ). O autor aponta ainda o recurso à simultaneidade e observa: “ ele
aguça a sensibilidade do espectador através de dois recursos adicionais : (1)
esticando o tempo de contato do espectador com a informação dada e (2)
concentrando a atenção do mesmo para os níveis mais subliminares da informação,
rejeitando tanto o contexto quanto qualquer informação analítica explícita (
GALIZIA, 1986, p. 17).
A abordagem metodológica do professor
Bulhões consistiu em principiar as aulas por um aquecimento corporal, propondo
variações rítmicas e diferenças de
planos e espaços, com os olhos abertos ou fechados. Formações em grupos, com a
presença de um líder, foram também incluídas. A seguir, em disposição circular,
cada participante propôs um movimento executado pelos demais colegas, a partir
de observações de vídeos das montagens de Robert Wilson. e através do
procedimento de selecionar determinadas imagens. O professor solicitou também a
preparação em casa de storyboards, ou
textos ilustrados com três desenhos, contendo começo, meio e fim.
A primeira proposta foi a de elaborar um
roteiro cênico que partisse da imagem de um sonho recorrente, por meio de um
processo pessoal e não de uma imagem projetada pelo dramaturgo. Propus
personagem que manuseia colheres compridas ora como arma, ora como enfeites
para o cabelo. A mulher foi bem aproveitada na direção realizada pelo colega
Evaldo Mocarzel, que incluiu também duas velhas, representadas por outras
colegas, que levavam a xícara à boca exatamente no mesmo ritmo, a exemplo do
que ocorre em “Uma carta para a rainha Vitória”, dirigida por Wilson.
A
proposta seguinte consistiu em partir de uma cena de algum autor e colocar em
cena como Wilson o faria. Uma colega ( Patrícia) foi designada como diretora e os demais como
atuantes. Reunindo elementos trazidos pelos colegas, uma cena foi montada em
palco que contava com um plano superior, que foi aproveitado.
A coralidade em Robert Wilson foi
igualmente tratada pelo professor.
Bibliografia:
GALIZIA, Luiz
Roberto. Os Processos Criativos de
Robert Wilson. São Paulo : Editora Perspectiva, 1986.
LEHMANN,
Hans-Thies. Le Théâtre postdramatique. Paris : L´ARCHE Éditeur, 2002.
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