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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

ROBERT WILSON

Protocolo

Por Célia Gouvêa

           A forma não se submete nem é inferior ao conteúdo. É um padrão existente em todas as coisas. Formal passou a opor-se a psicológico. No programa da última versão da ópera Macbeth apresentada em São Paulo em Novembro de 2012 no Teatro Municipal, o diretor Robert Wilson principia seu artigo com as palavras “Meu Teatro é um Teatro Formal”. “O teatro de Bali, o Katakali indiano, a ópera de Pequim, ou o teatro Nô do Japão são todos formais, ao passo que na cultura ocidental, como disse André Malraux, o teatro foi circunscrito pela literatura” (2012, p. 17).
        Hans Thies Lehmann, ao  referir-se à  dramaturgia visual de Robert Wilson, cita palavras do próprio criador: “O formalismo significa : observar as coisas à distância ; como um pássaro que, do galho de sua árvore, contempla a extensão do universo – diante dele se estende o infinito no qual ele pode entretanto reconhecer a estrutura temporal e espacial”. (Apud Keller, Holm.Robert Wilson. Regie im Theatre, Francfort/Main. 1997, p. 105 et s ) – tradução nossa.
        Outro aspecto relevante na precisa concepção cênica imagética de Wilson foi apontado por Luiz Roberto Galizia, em “Os Processos Criativos de Robert Wilson” : uma proximidade de relacionamento entre o pensamento consciente e  o inconsciente: “Abrigou a surpresa, o humor, a ambigüidade e as imprevisíveis associações do sonho”.
( GALIZIA, 1986, p. XXXVI ). O autor aponta ainda o recurso à simultaneidade e observa: “ ele aguça a sensibilidade do espectador através de dois recursos adicionais : (1) esticando o tempo de contato do espectador com a informação dada e (2) concentrando a atenção do mesmo para os níveis mais subliminares da informação, rejeitando tanto o contexto quanto qualquer informação analítica explícita ( GALIZIA, 1986, p. 17).
     A abordagem metodológica do professor Bulhões consistiu em principiar as aulas por um aquecimento corporal, propondo variações rítmicas e  diferenças de planos e espaços, com os olhos abertos ou fechados. Formações em grupos, com a presença de um líder, foram também incluídas. A seguir, em disposição circular, cada participante propôs um movimento executado pelos demais colegas, a partir de observações de vídeos das montagens de Robert Wilson. e através do procedimento de selecionar determinadas imagens. O professor solicitou também a preparação em casa de storyboards, ou textos ilustrados com três desenhos, contendo começo, meio e fim.
     A primeira proposta foi a de elaborar um roteiro cênico que partisse da imagem de um sonho recorrente, por meio de um processo pessoal e não de uma imagem projetada pelo dramaturgo. Propus personagem que manuseia colheres compridas ora como arma, ora como enfeites para o cabelo. A mulher foi bem aproveitada na direção realizada pelo colega Evaldo Mocarzel, que incluiu também duas velhas, representadas por outras colegas, que levavam a xícara à boca exatamente no mesmo ritmo, a exemplo do que ocorre em “Uma carta para a rainha Vitória”, dirigida por Wilson.
     A proposta seguinte consistiu em partir de uma cena de algum autor e colocar em cena como Wilson o faria. Uma colega ( Patrícia)  foi designada como diretora e os demais como atuantes. Reunindo elementos trazidos pelos colegas, uma cena foi montada em palco que contava com um plano superior, que foi aproveitado.
       A coralidade em Robert Wilson foi igualmente tratada  pelo professor.

Bibliografia:

GALIZIA, Luiz Roberto. Os Processos Criativos de Robert Wilson. São Paulo : Editora Perspectiva, 1986.
LEHMANN, Hans-Thies. Le Théâtre postdramatique. Paris : L´ARCHE Éditeur, 2002.


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