por Eduardo de Paula
Protocolo da disciplina: “Encenações em Jogo: Experimentos de Criação e Aprendizagem do Teatro Contemporâneo” – Prof. Marcos Bulhões Martins PPGAC – ECA/USP – 2012
Módulo: “Robert Wilson”
… o interesse e a curiosidade referem-se à questões que giram em torno das ideias de “Jogo” em relação aos “MODELOS estéticos” abordados e os decorrentes processos de ensino & aprendizagem referentes à criação da cena contemporânea.
O primeiro modelo estético abordado apoia-se nas proposições de Robert Wilson. Neste sentido, percebo que os termos “modelo” e “proposições” são fronteiriços à “princípios organizacionais”.
“Ficou claro para mim que, no mundo de Wilson, caos e ordem não são antípodas, e que na realidade funcionam como complementares, como um quadro e sua moldura. Sem nenhuma intenção de estragar o misterioso, o ‘maravilhoso’ em seu teatro, decidi-e então investigar os princípios organizacionais que caracterizam o processo criativo de Wilson.” (Galizia, 2004, XVIII)
Atento à ideia de “princípios organizacionais”, segue abaixo uma pequena lista observada no livro “Os processos criativos de Robert Wilson”, de Luiz Roberto Galiza; no documentário “Absolut Wilson”; nos espetáculos “Fábulas de La Fontaine”, “Sonetos”, “Einstein on the beach” (ambos assistidos em DVD), e na peça teatral “A última gravação de Krap” (SESC-SP, 2012).
- - (...) a possibilidade do uso do acaso e da improvisação como meios de se atingir resultados artísticos (Galizia, 2004, p.XXIII);
- - (...) proporcionar situações que deem a cada pessoa a oportunidade de fazer descobertas sobre si mesma e de desenvolver a confiança em suas próprias habilidades(Galizia, 2004, p.XXVI);
- - (...) a ideia do teatro como a combinação de todas as artes (Galizia, 2004, p.XXXIII);
- Relativo à ação dos performers:
o Corpo Geometrizado
o Movimentos: hiper-rápidos e/ou em câmera lenta
o Movimentos: amplos e/ou restritos
o Estatismo: congelamento e/ou suspensão do movimento
o Distorção vocal: disjunção entre fala e voz
- Relativo ao espaço cênico (visual, sonoro e sensorial):
o Espaço extremamente limpo
o Contraluz
o Luz que recorta os espaços – ora destacando, ora isolando
o Atmosfera de sonho e/ou pesadelo
o Sonoridade que cria atmosfera
o Sensação de hipnose
o Cena abstrata
o Cena onírica
o Cena paisagem
*
* Colocando algumas ideias em jogo:
- Atividades: Criação de Roteiros -
Roteiro 1: Livre: "Contemplação ou Despedida enquanto se vê Marte ou Vênus"
. roteiro composto por quatro quadro de cenas, cada um com 7min. de duração,
. um performer,
. sons de um suave vento, alternando silencio e possível som de agua correndo por um riacho,
. palco com apenas um praticável colocado no fundo, à esquerda,
. ciclorama em variações de azul,
. projeções: pássaros, chuva e metade de uma canoa - esta deve aparecer três vezes: primeiro aos 7min, depois aos 14min e por ultimo aos 21min,
. AÇÃO: 1. performer agachado, de costas para o publico, ouvindo o silencio: ciclorama em azul muito claro, com circulo alaranjado projetado no alto à direita: deve durar 7min.; 2. performer em pé, de costas para o publico, olhando para o ciclorama enquanto a imagem de uma canoa com uma pessoa aparece pela metade no ciclorama, a luz é de uma azul estrondoso, o circulo é projetado no alto à esquerda, sobre o performer que não se dá conta de sua aparição, som de vento suave; 3. após o total desaparecimento da canoa, o circulo alaranjado também desaparece, simultaneamente à isso, o performer lentamente vai se levantando e assumindo a imagem geometrizada no corpo como alguém que acena, e deve permanecer nesta posição por alguns minutos, fazendo pequenos espasmos nas pontas dos dedos da mão que acena, som de vento misturado com água - ambos suaves; 4. performer agachado no praticável, como se acariciasse as gotas de chuva que começam a cair suavemente, aos poucos os dois círculos alaranjados - que fazem alusão à Marte ou Vênus – vão surgindo no alto, um a direita e o outro à esquerda, o ciclorama deve estar em variações de azul, silêncio.
*
A partir da orientação de estudos apoiada na ideia de “jogo”, tomei o livro do Galizia e deparei com a série “Vídeo 50”. Segue alguns encontrados no Youtube:
1. “Mulher sendo assaltada”
2. “Pássaro em Cartão Postal”
3. “Mulher Hipnotizada pela Torradeira”
Roteiro 2: inspirado nas proposições de Robert Wilson, mais especificamente na série “Vídeo 50”: "Presente"
. um performer impecavelmente vestido com roupa social,
. uma caixa de presente embrulhada de papel vermelho brilhante, amarrado com laço de fita azul,
. cadeira de madeira de linhas retas e simples,
. batente e porta pendurados à meio metro do chão,
. áudio: som de campainha; fala em off “E agora?!”
. iluminação: contraluz em variações de azul; foco circular laranja-avermelhado.
. duração: total 49min.: 7 quadros de cena; cada um com a duração de 7 min.
AÇÃO: não se sabe se o homem recebeu o presente ou se vai presentar alguém, nem se ele está do lado de dentro ou de fora da porta; o presente deve ser a metáfora do tempo “agora”. 1. (0 aos 7min) imagem desfocada, ganha definição aos poucos, sons de campainha que se repete 7 vezes; 2.(8 aos 14min) imagem nítida revela o homem sentado na cadeira, segurando um presente; 3. (15 aos 21 min) som de toque de campainha, após, voz em off “E agora?!”; 4. (22 aos 28 min) mesma imagem estática do homem sentado segurando o presente; 5. (29 aos 35 min) inicia com toque de campainha, nada acontece, o homem continua do mesmo modo, no final, outro toque de campainha após, voz em off “E agora?!”; 6. (36 aos 42 min) mesma imagem estática do homem sentado segurando o presente; 7. (43 aos 49 min) inicia com toque de campainha, o homem continua do mesmo modo, após, voz em off “E agora?!”, imagem vai aos poucos ficando desfocada, o homem segue na mesma posição, estático, segurando o presente, projeção dos créditos.
- Em uma determinada aula, divididos em grupos, cada aluno apresentou seu roteiro para os demais. Foi escolhido um “diretor” em cada grupo, que deveria exercer tal função “à lá” Bob Wilson (= “autocrata”!). O que fizemos foi um tipo de “colagem” de momentos dos roteiros, combinados com os “princípios organizacionais” estudados a partir das leituras, observações das peças (em DVD e “Krapp” no SESC-SP) e da experimentação prática em sala de aula – que utilizou princípios de trabalho observados no “modelo estético bobwilsoniano”: 1.dança pessoal, 2.câmera lenta, 3.rápido, 4.geometria corporal, 5.forma coral, 6.foco do movimento, etc. – (vide detalhamento acima).
*
Ter a curiosidade como guia é a atitude que me move nesta jornada. Nesta primeira fase, deparar-se com a ideia de “modelo estético” e colocar-se em ação criativa, percebendo sua evidente eficácia esta sendo algo surpreendente, pois confesso que os resultados cênicos realizados pelos grupos foram incríveis!
Por hora “os perceberes” são movediços demais para firmar uma relação com a minha pesquisa. Ainda faltam outros olhares, encaminhamentos, percepções.
Então, não é o que fica, mas “o que continua”: o JOGO!
Que possamos ir até o devido lugar que este jogo puder nos levar!
Bibliografia:
ARAÚJO, Antônio. A encenação performativa. in Revista Sala Preta, São Paulo, v.1, nº8, 2008.
FÉRAL, Josette. Por uma poética da performatividade: o teatro performativo. Trad. Lígia Borges. Revista Sala Preta, São Paulo, v.1, n.8, pp. 197-210, 2008.
GALIZIA, Luiz Roberto. Os processos criativos de Robert Wilson. SP: Perspectiva, 2004.
LEHMANN, Hans-Thies. Teatro pós-dramático. São Paulo: Cosacnaify, 2007
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