Somando Ideias
Protocolo Bob Wilson
Martha Travassos
“Enquanto instrumento de
avaliação, o protocolo tem sem dúvida a função de registro, assumindo não
raramente o caráter de depoimento. Não reside aí, porém, a sua função mais
nobre. (...) Ao almejar como função mais nobre dar conta do caráter estético do
experimento com o modelo de ação (imagem e/ou texto), o protocolo promove a
dialética como método de pensamento.” – Ingrid Koudela
Um Exercício
que criou novas possibilidades de vida sobrepujando a ordem. Mais que uma experiência
estética: Uma vivência libertadora.
Conjuga
precisão/desvio, rigor, estranhamento, temporalidade incomodas, arranjos que
agregam simplicidade e caos. Utilização de recursos de luz, projeção de imagens
e música.
Reunidos
em uma roda cada um teve seu momento de expressão. Cada idéia foi ouvida e
editada em uma só composição. Essa foi a nossa experiência como atores
performáticos no exercício do Bob Wilson.
Nossa
diretora criou uma moldura e definiu a luz e o espaço. Escolheu a música como
elemento matemático que regeu nossos movimentos e estruturou o tempo.
“Quando
dirijo um trabalho eu crio uma estrutura no tempo. Quando finalmente todos os
elementos visuais estão no seu lugar, eu criei uma moldura para os performers
preencherem.”- Bob Wilson
Nossas
criações estavam lá preenchidas:
- Texto:
“Os cavalinhos correndo e nós cavalões comendo”. Foi falado, fragmentado e
cantado.
- A
construção de um castelo de sapatos
- O
barbeador frenético
- A mulher
tendo o cabelo trançado por duas outras. Todas com os olhos vendados.
- A imagem
da praia e o do açougue.
Sons e
imagens sendo mesclados na tentativa de mostrar o ritual, o belo, o estranho e
o mórbido. Usamos os procedimentos como da repetição, ritmo variado (lento e
rápido), pausas, gestos hieráticos precisos e cenas simultâneas.
“Surpreendido, abalado,
sensorialmente seduzido ou mesmo hipnotizado, o espectador nas performances de
Bob Wilson, experimenta AA passagem do tempo... O tempo cristaliza e transforma
o que é percebido: O objeto visual sobre o palco parece acumular tempo nele
mesmo... O teatro se assemelha a uma escultura cinética, torna-se escultura do
tampo.”
- LEHMANN
“O teatro de Wilson é um teatro
das metamorfoses... Da ação a transformação.”A metamorfose combina, assim como
a máquina deleuziana, realidades heterogenias, mil platôs e correntes de
energia.”
- LEHMANN
Como arte-educadora penso na metodologia que pode ser aplicada aos
alunos através dos exercícios do Bob Wilson.
Princípios a serem considerados pelo exercício:
-A fonte de toda a atividade está nas ações e atitudes impulsivas dos
seres humanos. É através do impulso que expulsamos nossa força criativa.
-As atividades de expressão liberam a personalidade pela espontaneidade
e formam-se pela cultura.
-As atividades artísticas permitem auto-expressão explorando todas
as formas de comunicação humana.
-Somente num clima de liberdade, podemos liberar nossas potencialidades
afetivas intelectuais e físicas.
-As atividades de expressão inscrevem-se num contexto contemporâneo e
social.
-O meio natural de estudo é através do jogo. O aluno aprende na prática.
Prática
Ativa
Difícil
tarefa de não buscar significados e enxergar o exercício com olhos de uma
criança que são livres de julgamentos e abrir os canais para todas as
possibilidades de troca.
Todas
as atividades de expressão demandam a solução de problemas que estimularam a
descoberta através da ação. Desenvolvendo a capacidade de relacionamento social,
espontaneidade, imaginação, observação e percepção.
Coletiva
Nesse
processo foi evidenciada a vontade e necessidade de criação coletiva. Foi
testada nossa capacidade de respeitar o desejo coletivo de somar as
experiências e projetos individuais.
Dimensão
de grupo possibilitando a descoberta de si próprio e do outro e do mundo em que
rodeia ampliando assim horizontes e repertórios.
Global
As
atividades de expressão são multidisciplinares criando relações com elementos
cênicos como música, projeção de vídeo, luz e artes plásticas. Valorizando
assim a paisagem cênica de todo o conjunto. Entretanto nenhuma destas artes se
sobrepujam as outras, elas se sobrepõem e se completam como peças de uma
engrenagem única, no desejo espontâneo de expressar-se.
A
composição final foi surpreendentemente edificante onde olhos e ouvidos
saltaram com o resultado obtido com a limpeza de cena em tão poucas horas de
preparação.
Voluntária
Todos
estavam de comum acordo com as atividades que iam exercer.
KOUDELA, Ingrid Dormien. Brecht
na pós-modernidade. São Paulo :
perspectiva, 2001, p. 86-93
REVERBAL, Olga. Jogos teatrais na
escola. Editora Scipione
LEHMANN, Teatro Pós-Dramático
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