PROTOCOLO BOB WILSON
EU ESTAVA SENTADO NO MEU PÁTIO ESTE CARA APARECEU E EU PENSEI QUE
ESTAVA ENcenando
ou
O TEATRO DE BOB WILSON
COMO METODOLOGIA DE ENSINO
A Pedagogia Wilson.
Para além dos
procedimentos, para além de exercícios de estilo, um jeito de pensar.
(Pensar=criar).
Trabalho de Arte
Total (Gesamtkunstwerk
não-wagneriana).
Encenação como
ensinação.
O teatro contemporâneo
pode ser modelo para o ensino do teatro? Esta foi uma das questões que
enfrentei em meu mestrado (João, Artur e Alice: brincando de fazer teatro nacontemporaneidade). Lá no final surgiu o nome de Bob Wilson (pág. 116-154) e um
paralelo com a utilização que se faz dos computadores. Se um adolescente, na
frente de sua tela particular, vê/ouve ao mesmo tempo vídeos no youtube,
músicas, acessa os e.mails e os recados no facebook, troca impressões com
cinco, seis dez amigos interligados, posta e vê fotos e vídeos caseiros, acessa
links, joga on line e mais coisas
ainda que não pertencem à minha experiência, por que não usar esse forma de “pensamento
conectado” em suas produções artísticas?
Os processos
criativos de Robert Wilson.
Bob Galizia Wilson.
O que eu posso
aprender com o teatro de Bob Wilson?
O que me interessa
aqui: a pedagogia Bob Wilson.
Menos um exercício de
estilo, mais um exercício de pensamento.
Estética.
Criação=pensamento.
Eu estava sentado no
meu pátio este cara apareceu e eu pensei que estava enlouquecendo.
Menos os
procedimentos, mais a encenação.
Gesamtkunstwerk wagneriana.
“Gesamtkunstwerk significa apenas um
‘trabalho de arte total’ e, no caso de Wilson, não exatamente como Richard
Wagner a entendia. Wilson não está interessado somente numa fusão das artes
(...). Ao invés de fusão, Wilson engendra uma justaposição de modos diferentes
da expressão humana. (...) Wilson simplifica os elementos do espetáculo de modo
a fazê-lo emergir como unidades artísticas autônomas. (...) De fato, ao invés
do resultado constituir-se na expressão de uma só linguagem artística, com
todas as modalidades convergindo para moldar um único significado, o que
transpira, nas peças de Wilson, é uma multiplicidade de linguagens,
frequentemente divergentes em significados. (...) É este novo conceito de
unidade, não mais caracterizado por sucessão, por transição, mas por justaposição,
ou mesmo por superposição, que caracteriza o Gesamtkunstwerk de Robert Wilson.” (Galizia).
O que interessa no
teatro de Bob Wilson para iniciantes em teatro? Essa tal de Obra de Arte Total.
A encenação polifônica. (Polifônica?) A disjunção das linguagens da cena.
Trabalhar o modelo de
encenação de Bob Wilson como método de ensino do teatro abre possibilidades de
exploração de outras linguagens artísticas abarcadas pelo teatro contemporâneo.
O participante/aluno deste processo pedagógico/artístico, em sua compreensão do
fenômeno teatral, pode interessar-se por e expressar-se em outras formas
cênicas, não necessariamente àquelas restritas à arte do ator. E se sua
expressão/criação é individual, mesmo assim pode dialogar com o coletivo.
Atritar com supostas unidades cênicas.
Nos estudos literários
contemporâneos há uma proposição que dialoga (se contrapõe?) com o conceito de
polifonia formulado por Bakhtin a partir do romance de Dostoievski e que é a do
arranjador. Não saberei aqui citar o autor, mas a encontrei na tese de
doutoramento de Caetano W. Galindo, que a utilizou para analisar a presença do
narrador na obra de James Joyce, Ulysses.
O que se propõe é ver o criador menos como um grande compositor de sinfonias
(Dostoievski) que articula as vozes dentro do romance, e mais como um
arranjador jazzístico (Joyce), isto é, que indica a entrada em cena das
vozes-solos deixando que estas exponham não apenas seus pontos de vista, mas
principalmente suas formas de expressão, independentes do todo.
“Caos
e ordem não são antípodas, (...) na realidade funcionam como complementares”
(Galizia).
Pensar separadamente
os elementos visuais e sonoros.
E pensar
separadamente o que é fala do que é música. O que é gesto do que é cenografia.
Separar, separar, separar. Depois juntar tudo, simultaneamente. Sem
preocupar-se com a unidade. Links, ramificações de pensamentos, opções de
escolha para os olhos, o espectador como construtor de sua própria leitura.
Rizoma.
O artista como
provocador de sensações e pensamentos, não como condutor de um pensamento
único. Em lugar de um pensamento totalitário, uma criação múltipla.
“Wilson
insiste em que o público precisa desenvolver outras percepções, já que é o
público quem passa a participar criativamente do viver artístico com sua
própria imaginação, completando, assim, o espetáculo.” (Galizia).
A
compreensão da criação artística (os processos de criação tanto individuais
como coletivos) contemporâneo possibilita também o surgimento de um novo
espectador. O aluno que passa por um processo artístico e pedagógico tendo como
modelo a encenação de Bob Wilson provavelmente desenvolverá outras ferramentas
críticas e de recepção, sejam para obras de arte, sejam para a vida em si.
Teatro
de convenções.
Repensar o tempo do
gesto. Os tempos dos gestos. Dilatá-los, amplificá-los, minimizá-los,
acelerá-los, retardá-los, tudoaomesmotempoaquiagora.
Simultaneidade.
O espectador como o usuário
do computador: conversas múltiplas e díspares, sequência de músicas
selecionadas aleatoriamente, vídeofotosyoutube, tudoaomesmotempoaquiagora. Na
frente da tela, selecionando. De frente ao palco, selecionando.
Falo aqui do Bob Galizia
Wilson. Bibliografia de férias de inverno na professora Ingrid Koudela já lá se
vão 26 anos!
Bob Galizia Wilson
“devorado” nos anos dois mil como forma de falar esteticamente sobre sonhos e
tempos com adolescentes (não disse “para” adolescentes, disse “com”
adolescentes). Livro-suporte: Alice no País das Maravilhas. Espetáculo-sonho:
Não é Alice no País das Maravilhas.
“A
vida é uma linguagem sem denotação” (Stephen Brecht apud Galizia).
Se no meio do que
você está fazendo você pára. (Arnaldo Antunes)
E se o tempo parar? E
se o tempo ralentar? E se o tempo acelerar? E se o tempo?
Citações: Poesia
Concreta, John Cage, Minimalismo, Fluxus, Pina Bausch, Arnaldo Antunes, Helio
Oiticica, José Roberto Aguilar, Philip Glass, Heiner Müller, Freud, Disney,
Lewis Carroll, Pop Art, Andy Warhol, tudo atravessado pelo pensar/fazer de um
Bob Wilson Tupiniquim Metido a Besta Professor de Teatro.
“A
resposta é emocional ao invés de racional” (Wilson apud Galízia).
Dissociações
criando sentidos na cabeça da plateia. Gesto para um lado, palavras para outro,
imagens ououtro, sons ouououtro.
Dançar a sua dança.
No seu ritmo. No seu gesto.
“...
proporcionar situações que dêem a cada pessoa a oportunidade de fazer
descobertas sobre si mesma e de desenvolver a confiança em suas próprias
habilidades” (Relatório da Fundação Byrd Hoffman apud Galizia).
Ainda que lá em cima
tenha dito “para além dos procedimentos, para além de exercícios de
estilo, um jeito de pensar”, os
procedimentos pedagógicos de criação e ensaio de Robert Wilson para o
ator/performer iniciante são valiosos. Descobrir sua dança particular, seu
gesto particular, seus ritmos particulares e reelaborá-los esteticamente.
Educação dos sentidos.
“Robert
Wilson é, na verdade, uma espécie de ressonador e, ao mesmo tempo, catalisador
de algumas conquistas artísticas que marcam, particularmente, uma fatia
importante do século XX.” (Galizia).
Bibliografia:
GALINDO,
Caetano W. Abre Aspas: a representação da palavra do outro no Ulysses de James Joyce e seu possível
convívio com a palavra de Bakhtin. Tese de Doutoramento. FFLCH-USP, São Paulo,
2006.
GALIZIA,
Luís Roberto. Os processos criativos de Robert Wilson. Ed. Perspectiva. São
Paulo, 2006.
GIANINI,
Marcelo. João, Artur e Alice: brincando de fazer teatro
na contemporaneidade (Processos de criação como prática pedagógica). Dissertação
de Mestrado. ECA-USP, São Paulo, 2009.
Marcelo Gianini,
Santandré/Maceió, abrilmaio de 2012.
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